Geração "why" - Porque não?
por Inês Fonseca, Inês Santos, Margarida Mexia e Rita Pacheco
O mercado de bens de consumo, serviços e de lazer tem vindo a sofrer nos últimos anos alterações significativas. O consumidor pós-moderno tende a assumir preferências e comportamentos de compra impossíveis de encaixar nos tradicionais modelos de segmentação dos consumidores e nas habituais motivações de consumo. É neste contexto que
emerge uma geração de indivíduos nascidos entre os anos 1978 e 1995, e que é uma geração já dominada pela obsessão tecnológica, capaz de tudo questionar e disposta a "virar a mesa" - a"Why" Generation.
Alguns dos epítetos habitualmente associados a esta geração incluem as expressões como "impaciente", "descomprometida", "desrespeitosa", "completamente condicionada pela imagem", "emotiva", "expressiva", mas também muito céptica.
Esta é a primeira geração nascida e criada dentro de um ambiente digital. Ou seja, a "aldeia global" não é, para estes jovens, uma possibilidade futura, mas sim uma realidade actual.
A geração "Why" viveu parte da sua juventude dentro de casa, em frente de uma televisão, de um vídeo ou de jogos de computador. Enquanto seres humanos, estes jovens inter-relacionam-se profusamente, questionam-se, evoluem, fragmentam-se virtualmente em 1001 tendências e impulsos e são profundamente imaginativos.
Os "Why" são cosmopolitas e aventureiros; pensam poder atingir o que quer que seja, sonham em viajar e conhecer todos os povos e culturas possíveis. Valorizam o "nós" mais do que o "eu", apesar do seu individualismo, e deixam–se aculturar facilmente - mais do que nacionais, sentem-se ao nível do mundo.
Curiosamente, e apesar da inegável tendência para toda uma panóplia de jogos e aparelhos electrónicos, a última coisa que um "Why" fará é ler um manual de utilização. Pelo contrário, a tendência é pegar no comando ou no controlo e começar a carregar em todos os botões para ver o que acontece!
A geração "Why" adora comunicar e todas as formas são boas: telemóvel, internet, chats, blogs, messenger e outras quaisquer novidades tecnológicas que surjam no mercado. Os jogos online ou de consola fazem parte dos vícios incontornáveis desta geração, empenhada em construir mundos virtuais, que vive intensamente.
Se existe um som característico que os acompanha para onde quer que vão é o das mensagens escritas dos telemóveis; não há proibição que os impeça de manter o telemóvel ligado. A falta de bateria, a inexistência de saldo ou o esquecimento do telefone em casa são alguns dos seus piores pesadelos. Trabalhar sem internet é inconcebível para uma geração que já nasceu "em rede".
Ao longo dos anos, a música tem sido o coração, a cabeça e o centro de energia da identidade de cada geração. Para além do som dos SMSs e do Messenger a funcionar, outro som há que acompanha esta geração para todo o lado: a sua música. O gira-discos já era, o rádio não é sufi- ciente e a aparelhagem em cima do ombro está completamente fora de cogitação. Os ídolos desta geração são transportáveis no telemóvel, em pendrives, mp3, ipods ou podcasts.
São mais abertos, multiculturais e tolerantes e querem saber o que se passa em todos os países do mundo. A pátria não tem já um peso tão grande como outrora para estes jovens, que não hesitam em colocar a mochila às costas e partir de interrail em anos sabáticos, se outro país lhes oferecer melhores condições a nível profissional ou emocional.
Regra geral os "Why" foram mimados. Numa tentativa de repor as ausências familiares, os pais encheram-nos de compensações materiais e cederam muito mais do que os seus progenitores. Têm também, desde cedo, mais dinheiro, cresceram com a moda das semanadas e das mesadas e muitos, chegada a adolescência, procuram part-times que lhes engordem o orçamento.
Os "Why" são naturalmente consumistas, ainda que o consumo assuma características distintas do da geração precedente. Compram muito, mas procuram mais do que simples marcas de produtos; escolhem, em vez disso, marcas que se identifiquem com a sua forma de estar e viver, que transmitam os seus valores, que os acompanhem e que, de alguma forma, reproduzam a sua voz. Procuram marcas com identidade e cujos valores conheçam.
Em termos da aceitação da mensagem da comunicação, a geração "Why" passou de um "Será verdade?" para uma postura de "Quero experimentar!", própria de quem procura uma realidade vivida dia-a-dia.
A geração "Why" fez as pazes com a natureza encontrando aqui um cenário para múltiplas aventuras, sobretudo as radicais, como o surf, o BTT, o skate, os patins em linha, o kitesurf ou o rappel...Estas actividades fazem tanto mais sentido quanto mais forem partilhadas pelo grupo e vividas quase como uma filosofia. O culto do corpo é outra das preocupações: os rapazes esforçam-se por definir os músculos e as raparigas estão dispostas a quase tudo para conseguir o corpo perfeito. A imagem é extremamente importante mesmo que, aos olhos dos outros, a sua aparência possa parecer desleixada; o estilo de vestir é pensado ao pormenor e cada peça é escolhida para comunicar uma maneira de estar e de sentir. A moda faz mais sentido quando personalizada, criando um estilo próprio, resultado, por vezes, de uma fragmentação de estilos e nostalgias. Levadas ao extremo, as preocupações estéticas e de imagem constituem uma espécie de resposta de auto- afirmação perante um mundo algo confuso e caótico.
Os movimentos antiglobalização ou as preocupações ecológicas conquistaram, nesta geração, um lugar deixado de certa forma abandonado pela falta de ideais políticas e pelo esvaziamento ideológico. Na ordem do dia estão também temas emergentes, como a legalização do aborto, o casamento de homossexuais ou o sexo seguro.
Ao chegar a hora de entrar na vida activa, a geração "Why" não procura um emprego para toda a vida, mas uma situação que os satisfaça no momento. A tendência para tudo pôr em causa - em especial o óbvio - leva esta geração a não aceitar com naturalidade o habitualmente inquestionável; falamos de uma geração que questiona as tarefas e responsabilidades que lhe são atribuídas e que precisa de perceber a razão de ser do que lhe é pedido. Procuram explicações e sentido em todas as coisas. São criativos e gostam de criar soluções inovadoras.
Por tudo isto, esta geração é menos relutante à mudança, acreditando que, a qualquer momento, tudo pode mudar; aproveitam, por isso, a incerteza para desfrutar cada experiência, tentando tirar partido de cada dia sem pensar de mais no amanhã que é inseguro. Quanto ao futuro, "está-se bem!" ou "logo se verá".